Falar ou não sobre a gagueira em uma entrevista de emprego? Esta é uma dúvida frequente na fonoterapia de adultos que gaguejam. Em geral, as pessoas preferem não comentar sobre o assunto, com receio de que isso possa reduzir a chance de conseguir o emprego. Além disso, fazem o máximo possível para não gaguejar na entrevista ou, ao gaguejarem, torcem para que o entrevistador não perceba ou atribua a gagueira a um nervosismo pontual. Mas esta é a melhor decisão? Diversos estudos apontam que não.
Um estudo recente sobre o assunto foi realizado por Jennifer Perez, Leonard Newman e Jenna Walmer [1]. Utilizando simulações de entrevistas de emprego, os autores concluíram que os candidatos com gagueira foram mais bem avaliados quando comentaram brevemente sobre serem pessoas com gagueira no início da entrevista.
O estudo
Dois atores (uma mulher e um homem) se passaram por pessoas com gagueira, tendo sido entrevistados por um dos autores do estudo. Os atores receberam um texto com respostas que deveriam ser decoradas e a entrevista foi gravada. Além disso, os atores receberam treinamento para simular adequadamente a gagueira. Havia três condições no estudo:
- Entrevista sem gagueira.
- Entrevista com gagueira, mas sem comentar nada sobre ela.
- Entrevista com gagueira com um pequeno comentário no início: “Só para avisar, eu tenho gagueira”.
O breve comentário sobre gagueira sempre foi feito logo no início da entrevista, porque pesquisas anteriores já indicaram que o efeito positivo que pode haver do ato de reconhecer a gagueira ocorre quando este reconhecimento é feito no início da interação e não no final. Além disso, o comentário foi feito de forma informativa e não como um pedido de desculpas por gaguejar. Pesquisas anteriores também já demonstraram que desculpar-se pela gagueira não produz efeito positivo no interlocutor.
Cada vídeo de entrevista durou de 2 a 3 minutos. Cada avaliador assistiu a dois vídeos (um com gagueira e outro sem; um com a atriz e outro com o ator). Os avaliadores foram 50 alunos de graduação em Psicologia de uma universidade americana. Eles não estavam cientes do propósito do estudo.
Os avaliadores responderam diversas perguntas depois de assistir aos vídeos, com notas de 1 (= muito ruim) a 7 (= muito bom). Apenas duas perguntas eram realmente de interesse para a pesquisa:
- “Se a decisão de contratar fosse sua, qual a probabilidade de você oferecer o emprego ao candidato?”
- “Qual foi a impressão que o candidato transmitiu nesta entrevista?”
Para as duas perguntas, os resultados indicaram que quando o candidato que gagueja não comenta nada sobre seu distúrbio de fluência, ele é pior avaliado em relação ao candidato sem gagueira. Por outro lado, quando ele comenta brevemente sobre sua gagueira, ele deixa de ser penalizado. E o mais interessante: ao comentar sobre seu distúrbio de fluência, não apenas o candidato com gagueira ganha pontos, como também o candidato que não gagueja perde pontos. Segue abaixo um resumo das notas atribuídas pelos avaliadores:
Sem gagueira | Com gagueira | |
---|---|---|
Sem assumir a gagueira | 5,7 | 4,4 |
Assumindo a gagueira | 5,0 | 5,1 |
Os autores do estudo concluem que pode ser benéfico para o adulto que gagueja comentar brevemente sobre sua gagueira em uma entrevista de emprego. Isso deve ser feito logo no início da entrevista e de maneira informativa (sem pedir desculpas).
Estes resultados são extremamente importantes quando se considera a opinião pública negativa em torno da gagueira e das pessoas que gaguejam. Ao assumir a gagueira na entrevista de emprego, o candidato tem a chance de tentar desfazer os efeitos negativos que o distúrbio de fluência pode ocasionar. Os autores do estudo frisam que as pessoas que gaguejam podem fazer algo para melhorar a forma como são percebidas pelos outros ao invés de apenas esperar que a opinião pública sobre a gagueira deixe de ser tão negativa.
Referência