Malala Yousafzai tem atualmente 18 anos. Ela nasceu no Paquistão, no Vale do Swat, onde viveu até seus 15 anos.
Desde 2007, a região do Paquistão em que Malala vivia passou a ser dominada pelo grupo terrorista Talibã. Uma das práticas de dominação deste grupo consiste em impedir que meninas, adolescentes e mulheres tenham acesso à escolarização. A única forma de educação que elas podem ter é a religiosa (especificamente, a muçulmana). Ao longo dos anos, cerca de 400 escolas paquistanesas foram destruídas por bombardeios, os quais ocorreram geralmente durante a noite.
De janeiro a março de 2009, então com 11 anos, Malala se ofereceu para registrar o que acontecia em sua cidade natal. Ela se correspondia diariamente com um jornalista da BBC e relatava seu dia. Esse jornalista publicava no blog da BBC os relatos de Malala (“Diary of a Pakistani schoolgirl“).
Em seguida, Malala decidiu que começaria a falar em público para defender o direito das meninas à escolarização. O líder do Talibã em sua região mandou avisos à Malala, via rádio local, dizendo que ele a conhecia e que era para ela tomar cuidado. Malala continuou indo à escola, junto com duas amigas. Em outubro de 2012, quando ela tinha 15 anos, o ônibus em que as três amigas estavam foi atacado pelo Talibã. Suas amigas foram atingidas com pouca gravidade. Malala, por outro lado, foi atingida gravemente por arma de fogo. O projétil atingiu o lado esquerdo da sua cabeça. Inicialmente, o atendimento médico foi feito no hospital militar da cidade paquistanesa de Peshawar. Mas, seis dias depois, ela foi transferida para um hospital mais equipado em Birmingham, no Reino Unido. Malala teve um sério edema cerebral e foi mantida em coma induzido por dez dias. Quando acordou, sua primeira pergunta foi: “Cadê meu pai?”. Havia risco de sequelas cognitivas e motoras permanentes. Entretanto, ao receber alta do hospital em janeiro de 2013, Malala apresentava “apenas” perda de audição na orelha esquerda e paralisia facial também no lado esquerdo.
Por sua luta determinada e corajosa, Malala ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2014, aos 17 anos. Ela é a pessoa mais jovem a ser laureada. O indiano Kailash Satyarthi também ganhou o Prêmio neste mesmo ano. Ambos foram laureados por lutarem pelo direito das crianças à escolarização.
O pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, foi o grande incentivador de Malala. Foi ele quem escolheu o nome da filha. “Malalai” era o nome de uma guerreira afegã, que instigou o exército a lutar. Ziauddin graduou-se como professor de inglês. Ele fundou sua primeira escola com U$ 150 e três alunos. Ao longo do tempo, sua escola cresceu. Aos quatro anos, Malala passou a frequentar a escola do pai, que passou também a ser a sua casa. Ziauddin usava sua fala para dar aulas e para incentivar Malala a falar, a despeito da gagueira que ele apresenta desde a infância. Quando criança, o pai de Ziauddin disse que ele jamais poderia ser orador, porque não conseguiu falar sem gaguejar. Ziauddin não aceitou que a descrença paterna determinasse sua vida. Durante a faculdade, ao participar do grêmio estudantil, Ziauddin percebeu que era, sim, possível para ele ser um orador.
Em 2015, foi lançado o documentário “Malala” (“He named me Malala”). O documentário retrata a trajetória de Malala até então. Em certo trecho do filme, o entrevistador pergunta explicitamente para Ziauddin e Malala sobre a gagueira dele. Ziauddin admite abertamente que gagueja. Malala diz algo muito impactante, na minha opinião, sobre a atitude de seu pai diante da gagueira. Ela sabe que uma pessoa que gagueja pode trocar a palavra quando percebe que vai gaguejar. Mas ela acha que seu pai não faz isso. Ela tem a impressão que ele fala exatamente a palavra que quer, mesmo gaguejando.
Segue abaixo o trailer do documentário (legendado em português):
Ziauddin proferiu uma palestra no TED em 2014 (conforme vídeo abaixo, com legendas em português). Chama atenção sua fala ensaiada (como era de se esperar para um evento formal), a taxa lentificada de elocução e a gesticulação com as mãos.
Atualmente, Ziauddin trabalha como adido educacional no consulado paquistanês em Birmingham.
Fica aqui minha singela homenagem a Ziauddin Yousafzai, que continuou falando, mesmo gaguejando.