GAGUEIRA

Tratamento fonoaudiológico especializado para gagueira

Em linhas gerais, o tratamento aborda:

1. Dinâmica familiar

Determinadas atitudes dos pais podem piorar a gagueira da criança. A seguir, alguns pontos importantes:

Não falar sobre a gagueira, fingindo que ela não existe, contribui para aumentar o tabu em torno do assunto. A gagueira não vai se tornar permanente apenas por ser reconhecida e nomeada.
A criança não gagueja porque quer ou para chamar a atenção.

A gagueira é involuntária. Por isso, instruções como: “Fale mais devagar”, “Fique calmo”, “Pense antes de falar”, “Respire fundo”, “Pare e comece de novo” ou “Pare de gaguejar” não funcionam.
Saiba mais sobre orientações aos pais aqui.

2. Desconstrução do mito de 100% de Fluência

O mito de 100% de fluência é muito prejudicial.

A fluência normal não é perfeita e apresenta hesitações, pausas e reformulações. É possível atingir 100% de fluência apenas na leitura ensaiada ou na fala decorada. Assim, os apresentadores de telejornais são muito fluentes, porque leem as notícias. Os personagens de novelas são muito fluentes, porque decoram suas falas. Como a fala espontânea não é, em geral, ensaiada ou decorada, apresenta hesitações/disfluências, o que é absolutamente normal.

3. Assumir a gagueira

Muitas pessoas que gaguejam se envergonham de sua fala ou acham que são culpadas por “não falarem direito”.

Às vezes, para se sentirem melhor, essas pessoas passam a negar a gagueira, sua gravidade ou seus impactos psicossociais. A desconstrução do mito de 100% de fluência e a aprendizagem das técnicas de fala tendem a ser fatores que auxiliam na aceitação da gagueira.

4. Resposta de congelamento ("freezing")

Certos sentimentos (como medo, ansiedade, insegurança, timidez, vergonha) tendem a piorar a gagueira.

Essas emoções pioram a gagueira, porque disparam a resposta de congelamento. Por outro lado, outros sentimentos (como tranquilidade e raiva) tendem a melhorar a gagueira.

A resposta de congelamento é um estado de diminuição dos movimentos do corpo, incluindo dos movimentos voluntários e da vocalização. Esta resposta ocorre quando a pessoa está em uma situação que considera amedrontadora. Quando a pessoa tenta falar durante o congelamento, a gagueira claramente se intensifica.

5. Exercícios facilitadores

Exercícios de condicionamento

para a musculatura orofacial, vocal e escapular auxiliam no equilíbrio da tensão muscular e na propriocepção. O maior condicionamento muscular e sua maior propriocepção favorecem a aprendizagem das técnicas de fala. Saiba mais sobre exercícios facilitadores aqui e aqui.

6. Técnicas de fala

Diminuição da velocidade de fala:

a redução da velocidade de fala geralmente diminui a ocorrência da gagueira. Esta técnica pode ser contraintuitiva para pacientes que tentam falar o mais rápido possível “para terminar logo”.


Uso de pausas:

a utilização de um maior número de pausas na fala também é uma estratégia eficiente para diminuir a ocorrência da gagueira. Entretanto, se as pausas forem muito numerosas ou muito longas, a fala também vai soar pouco fluente. Por isso, o treino é organizado para que o paciente aprenda a utilizar mais pausas na fala, mas em quantidade e duração adequadas.



Suavização:

a pessoa que gagueja, muitas vezes, tensiona a musculatura de fala na tentativa de sair mais rapidamente dos momentos de gagueira. A técnica de suavização consiste em aprender a resistir ao impulso de “colocar força para sair da gagueira”, aprendendo a produzir fala com menor tensão muscular. Saiba mais sobre a técnica de suavização aqui e aqui.

Inibição dos movimentos associados à gagueira:

esta técnica geralmente é treinada em conjunto com à de suavização, tendo em vista que boa parte dos movimentos associados ocorrem devido ao excesso de esforço físico durante os momentos de gagueira. Para este treino, são utilizados registros em vídeo, nos quais o paciente pode ver os movimentos que produz, ter mais consciência sobre eles e aprender a inibi-los.

Uso de disfluências voluntárias:

a utilização de disfluências voluntárias antes de palavras que serão gaguejadas é uma técnica para “dissolver” a gagueira ou para amenizar sua ocorrência. O treino é elaborado de forma que o paciente consiga aprender a utilizar disfluências voluntárias (como preenchedores ou alongamentos em final de palavra) de forma estratégica.

Cancelamento:

a técnica de cancelamento consiste em aprender a sair de um momento de gagueira, principalmente se este momento for longo e intenso. A técnica de cancelamento pode ser associada à suavização ou às disfluências voluntárias.

7. Gagueira ao falar dados pessoais 
(nome, endereço, telefone, CPF)

Algumas pessoas gaguejam justamente quando são solicitadas a fornecer seus dados pessoais.

Os dados pessoais são informações que geralmente estão fortemente memorizadas e, portanto, espera-se que a pessoa saiba referi-los prontamente. Nestes casos, a redução da pressão de tempo e a estratégia de suavização são especialmente indicados.

FAQ Gagueira

A gagueira é um distúrbio de fluência da fala. Sinais típicos incluem repetições de parte de palavras e de monossílabos, alongamentos e bloqueios de sons em início de palavras.

Na tentativa de ocultar a gagueira, o falante pode recorrer a diversos truques, tais como: deixar de falar (dando a entender que é “tímido”), substituir palavras “difíceis” por outras mais fáceis, falar outras palavras antes da palavra realmente pretendida (circunlocução), modificar a ordem das palavras na frase, usar marcadores discursivos como “tipo” e “assim”, etc.

A gagueira é involuntária. Isso significa que o falante não tem controle sobre sua fala, não sendo possível simplesmente optar por não gaguejar.

Duas causas da gagueira estão comprovadas.

A primeira e mais importante é a hereditariedade. A maior parte das pessoas que gaguejam apresentam predisposição genética para o distúrbio.

A segunda é a lesão cerebral. Boa parte das pessoas que gaguejam (incluindo crianças) apresentam histórico de injúria cerebral, como hipóxia ao nascer e trauma de crânio.

Também está sendo pesquisado se reações autoimunes (principalmente aquela deflagrada por infecções por estreptococos do grupo A) podem causar gagueira.

O cérebro de uma pessoa que gagueja funciona de forma diferente em comparação com o cérebro de uma pessoa que não gagueja. Existem alterações tanto em nível cortical, quanto em nível subcortical (veja aqui). De maneira geral, essas alterações fazem com que os núcleos da base não produzam pistas temporais internas suficientes para finalizar um som e iniciar o próximo som da palavra. Até que o próximo som não é liberado, o falante permanece no som anterior (prolongando, repetindo ou bloqueando).

Situações que desautomatizam a fala ou que sincronizam a fala com estímulos externos tendem a melhorar a fluência, tais como: cantar, ler em coro, falar com outro sotaque, sussurrar, representar um personagem, falar em um ambiente barulhento, falar com crianças pequenas, etc.

Os distúrbios mais comumente associados à gagueira são: taquifemia, bruxismo, tiques (motores e/ou vocais), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e impulsividade (TDAHI), epilepsia, insônia (tanto em crianças, quanto em adolescentes e adultos), distúrbios respiratórios do sono, alergias (incluindo rinite alérgica e alergia alimentar) e transtorno de ansiedade social.

Para que o tratamento da gagueira tenha sucesso, é imprescindível que estes outros distúrbios sejam diagnosticados e tratados.

Em linhas gerais, o tratamento aborda:

1) DINÂMICA FAMILIAR

Determinadas atitudes dos pais podem piorar a gagueira da criança. A seguir, alguns pontos importantes:

  • Não falar sobre a gagueira, fingindo que ela não existe, contribui para aumentar o tabu em torno do assunto. A gagueira não vai se tornar permanente apenas por ser reconhecida e nomeada.
  • A criança não gagueja porque quer ou para chamar a atenção.
  • A gagueira é involuntária. Por isso, instruções como: “Fale mais devagar”, “Fique calmo”, “Pensar antes de falar”, “Respire fundo”, “Pare e comece de novo”, “Pare de gaguejar” não funcionam.

Saiba mais sobre orientações aos pais aqui.

2) DESCONSTRUÇÃO DO MITO DE 100% DE FLUÊNCIA
O mito de 100% de fluência é muito prejudicial. A fluência normal não é perfeita e apresenta hesitações, pausas e reformulações. É possível atingir 100% de fluência apenas na leitura ensaiada ou na fala decorada. Assim, os apresentadores de telejornais são muito fluentes, porque leem as notícias. Os personagens de novelas são muito fluentes, porque decoram suas falas. Como a fala espontânea não é, em geral, ensaiada ou decorada, apresenta hesitações/disfluências, o que é absolutamente normal.

3) ASSUMIR A GAGUEIRA
Muitas pessoas que gaguejam se envergonham de sua fala ou acham que são culpadas por “não falarem direito”. Às vezes, para se sentirem melhor, essas pessoas passam a negar a gagueira, sua gravidade ou seus impactos psicossociais. A desconstrução do mito de 100% de fluência e a aprendizagem das técnicas de fala tendem a ser fatores que auxiliam na aceitação da gagueira.

4) RESPOSTA DE CONGELAMENTO (“FREEZING”)
Certos sentimentos (como medo, ansiedade, insegurança, timidez, vergonha) tendem a piorar a gagueira. Essas emoções pioram a gagueira, porque disparam a resposta de congelamento. Por outro lado, outros sentimentos (como tranquilidade e raiva) tendem a melhorar a gagueira, porque não disparam a resposta de congelamento.

A resposta de congelamento é um estado de diminuição dos movimentos do corpo, incluindo redução dos batimentos cardíacos, dos movimentos voluntários e da vocalização. Esta resposta ocorre quando a pessoa está em uma situação que considera amedrontadora. Quando a pessoa tenta falar durante o congelamento, a gagueira claramente se intensifica.

5) EXERCÍCIOS FACILITADORES
Exercícios de condicionamento para a musculatura orofacial, vocal e escapular auxiliam no equilíbrio da tensão muscular e na propriocepção. O maior condicionamento muscular e sua maior propriocepção favorecem a aprendizagem das técnicas de fala. Saiba mais sobre exercícios facilitadores aqui e aqui.

6) TÉCNICAS DE FALA

Diminuição da velocidade de fala – a redução da velocidade de fala geralmente diminui a ocorrência da gagueira. Esta técnica pode ser contraintuitiva para pacientes que tentam falar o mais rápido possível “para terminar logo”.

Uso de pausas – a utilização de um maior número de pausas na fala também é uma estratégia eficiente para diminuir a ocorrência da gagueira. Entretanto, se as pausas forem muito numerosas ou muito longas, a fala também vai soar pouco fluente. Por isso, o treino é organizado para que o paciente aprenda a utilizar mais pausas na fala, mas em quantidade e duração adequadas.

Suavização – a pessoa que gagueja, muitas vezes, tensiona a musculatura de fala na tentativa de sair mais rapidamente dos momentos de gagueira. A técnica de suavização consiste em aprender a resistir ao impulso de “colocar força para sair da gagueira”, aprendendo a produzir fala com menor tensão muscular. Saiba mais sobre a técnica de suavização aqui e aqui.

Inibição dos movimentos associados à gagueira – esta técnica geralmente é treinada em conjunto com à de suavização, tendo em vista que boa parte dos movimentos associados ocorrem devido ao excesso de esforço físico durante os momentos de gagueira. Para este treino, são utilizados registros em vídeo, nos quais o paciente pode ver os movimentos que produz, ter mais consciência sobre eles e aprender a inibi-los.

Uso de disfluências voluntárias – a utilização de disfluências voluntárias antes de palavras que serão gaguejadas é uma técnica para “dissolver” a gagueira ou para amenizar sua ocorrência.  O treino é elaborado de forma que o paciente consiga aprender a utilizar disfluências voluntárias (como preenchedores ou alongamentos em final de palavra) de forma estratégica.

Cancelamento – a técnica de cancelamento consiste em aprender a sair de um momento de gagueira, principalmente se este momento for longo e intenso. A técnica de cancelamento pode ser associada à suavização ou às disfluências voluntárias.

7) GAGUEIRA AO FALAR DADOS PESSOAIS (nome, endereço, telefone, RG, CPF)

Algumas pessoas gaguejam justamente quando são solicitadas a fornecer seus dados pessoais. Os dados pessoais são informações que geralmente estão fortemente memorizadas e, portanto, espera-se que a pessoa saiba referi-los prontamente. Nestes casos, a redução da pressão de tempo e a estratégia de suavização são especialmente indicados.